sexta-feira, 1 de abril de 2011



SÃO FRANCISCO E AS CRIATURAS








 

Em 1979, São Francisco de Assis foi declarado “Patrono celeste dos cultores da ecologia” pelo papa João Paulo II. Com uma profunda humildade, este santo se fez o irmão menor de todas as criaturas, não querendo dominá-las e nem possuí-las. Ele amou livremente a cada uma delas sem nenhum apego egoísta.


A natureza para São Francisco é um reflexo luminoso do Criador. Nas criaturas, ele contemplava justamente aqueles traços deixados pelo Autor na sua obra. O Santo de Assis nos ensina a enxergar em cada ser criado os raios daquela Beleza incomparável e a doçura daquela Bondade eterna que é Deus. A criação nunca foi entendida por ele como um obstáculo para a comunhão com Deus, mas como uma escada que aponta para o Mistério divino.





A seguir proponho a leitura de alguns textos das Fontes Franciscanas que nos ajudarão a compreender melhor a alma do Pobrezinho de Assis no que se refere ao seu amor para com as criaturas: 



“Totalmente absorto no amor de Deus, São Francisco vislumbrava perfeitamente a bondade de Deus não só na sua alma, já ornada com toda a perfeição das virtudes, mas também em qualquer outra criatura. Por isso, dedicava especial e entranhado amor às criaturas, sobretudo àquelas nas quais via algo referente a Deus ou à religião”  (Espelho da Perfeição 113,1-2).




São Francisco “reconhece nas coisas belas aquele que é o mais Belo; todas as coisas boas lhe clamam: ‘Quem nos fez é o Melhor’. Por meio dos vestígios impressos nas coisas ele segue o Amado por toda parte e de todas as coisas faz para si uma escada para se chegar ao trono dele.





Abraça todas as coisas com o afeto de inaudita devoção, falando com elas sobre o Senhor e exortando-as a louvá-lo. Poupa os candeeiros, lâmpadas e velas, não querendo com sua mão extinguir o fulgor que era sinal da luz eterna.







Recolhe do caminho os vermezinhos, para que não sejam pisados, e manda que sejam servidos mel e ótimos vinhos às abelhas, para que não morram por falta de alimento no rigoroso frio do inverno. Chama com o nome de irmão todos os animais, conquanto entre todas as espécies de animais prefira os mansos” (2 Celano 165).




“Enchia-se muitas vezes de admirável e inefável alegria, quando olhava o sol, quando via a lua, quando contemplava as estrelas e o firmamento. Ó piedade simples, ó simplicidade piedosa!” (1 Celano 80).



“Quanta alegria julgas que a beleza das flores lhe trazia à mente, quando ele via a delicadeza da forma e sentia o suave perfume delas? (...) E quando encontrava grande quantidade de flores, de tal modo lhes pregava e as convidava ao louvor do Senhor, como se elas fossem dotadas de razão. Assim também, com sinceríssima pureza, admoestava ao amor divino e exortava a generoso louvor os trigais e vinhas, pedras e bosques e todas as coisas belas dos campos, as nascentes das fontes e todo o verde dos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento. (...) Percebia com agudeza as coisas ocultas do coração das criaturas, como quem já tivesse alcançado a liberdade gloriosa dos filhos de Deus (cf. Rm 8,21)(1 Celano 81).










“Entre todas as aves, amava especialmente uma avezinha chamada cotovia, vulgarmente chamada de cotovia de capuz. Dela dizia: ‘A irmã cotovia tem um capuz como os religiosos e é uma ave humilde, porque de bom grado anda pelo caminho à procura de algum grão e, mesmo que o encontre no esterco, o retira e o come. Voando, louva o Senhor muito suavemente, como os bons religiosos que desprezam as coisas terrenas, cuja morada está sempre nos céus e a intenção é sempre o louvor de Deus. Sua veste, isto é, suas penas, assemelha-se à terra e dá exemplo aos religiosos, que não devem ter vestes delicadas e coloridas, mas de baixo preço e cor como a terra, que é mais humilde que outros elementos’.






E porque nelas considerava tudo isso, tinha o máximo prazer em vê-las. Por isso aprouve ao Senhor que as próprias avezinhas dessem um sinal de seu amor por ele na hora de sua morte. No sábado à tarde, depois das Vésperas, antes da noite em que migrou para o Senhor, grande multidão destas aves, chamadas cotovias, reuniu-se sobre o telhado da casa em que ele jazia e, voando um pouco, faziam um círculo ao redor do telhado e, cantando docemente, pareciam louvar o Senhor” (Espelho da Perfeição 113,3-9).







“Depois do fogo, amava particularmente a água, porque ela simboliza a penitência e a tribulação, pelas quais se lava a miséria da alma e porque a primeira purificação da alma é feita pela água do batismo. Por isso, quando lavava suas mãos, escolhia um lugar tal que a água que caía por terra não fosse calcada pelos pés. Até quando era preciso caminhar sobre as pedras, andava com grande temor e reverência, por amor daquele que é chamado de pedra. (...)





Também ao irmão que cortava e preparava a lenha para o fogo, recomendava que nunca derrubasse toda a árvore, mas que cortasse tais árvores de forma a sempre deixar íntegra alguma parte dela, por amor daquele que quis realizar a nossa salvação no lenho da cruz.






Igualmente recomendava ao frade que trabalhava na horta que não cultivasse toda a terra somente com ervas comestíveis, mas deixasse livre alguma parte da terra, para que produzisse ervas verdejantes que, a seu tempo, produzissem flores aos irmãos, por amor daquele que é chamado de flor dos campos e lírio dos vales (cf. Ct 2,1).





E até dizia que o frade hortelão devia fazer sempre um belo canteiro em alguma parte da horta, pondo e plantando ali todas as ervas odoríferas e todas as ervas que produzem belas flores, para que, a seu tempo, convidassem a louvar a Deus todos aqueles que vissem aquelas ervas e aquelas flores. Pois toda criatura diz e clama: ‘Deus me fez para ti, ó homem’.








Por isso, nós que vivemos com ele vimos que ele tanto se alegrava interior e exteriormente com quase todas as criaturas que, tocando-as ou vendo-as, parecia que seu espírito não estava na terra, mas no céu. E, por causa das muitas consolações que recebeu e recebia das criaturas, pouco antes de sua morte, compôs e fez alguns Louvores do Senhor por suas criaturas, para estimular ao louvor de Deus os corações dos ouvintes e para que o próprio Deus fosse louvado pelos homens nas suas criaturas” (Espelho de Perfeição 118).



São Francisco “transbordava em espírito de caridade, tendo entranhas de compaixão não só para com os homens que sofriam necessidade, mas também para com os animais privados de fala e de razão, répteis, pássaros e demais criaturas sensíveis e insensíveis. Mas entre todas as espécies de animais, amava com especial afeição e mais pronto afeto os cordeirinhos, pelo fato de que a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo nas Sagradas Escrituras é frequentemente comparada e mais convenientemente adaptada ao cordeiro. Assim também, abraçava mais carinhosamente e via mais prazerosamente todos aqueles animais nos quais principalmente pudesse ser encontrada alguma semelhança alegórica com o Filho de Deus” (1 Celano 77).




                               PAX ET BONUM 

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.