terça-feira, 1 de novembro de 2011

Santa Isabel da Hungria, patrona da Terceira Ordem de São Francisco



         No dia 17 de novembro a família franciscana se alegra com a festa litúrgica de Santa Isabel, Princesa da Hungria e Grande Condessa da Turíngia, patrona da Terceira Ordem de São Francisco. Esta santa foi a primeira mulher franciscana a receber a honra dos altares, pois no tempo de sua canonização Santa Clara ainda vivia em São Damião.




         Seguindo de perto a Carta Celebrativa da Conferência da Família Franciscana: Cremos no Amor, datada de 17 de novembro de 2006, por ocasião do VIII centenário do nascimento de Santa Isabel, apresentaremos a seguir os traços biográficos mais relevantes desta santa.



         Quem foi esta mulher? Onde e quando nasceu? Isabel era uma princesa da Hungria, filha do rei André II e da rainha Gertrudes. Ela nasceu no ano de 1207, provavelmente no castelo de Sarospatak, ao norte da Hungria.

Mapa de Europa mostrando a Hungria em rosa.


“Seguindo os costumes vigentes entre a nobreza medieval, Isabel foi prometida como esposa a um príncipe alemão”. Aos quatro anos ela foi enviada para a distante Turíngia (região da Alemanha central) onde foi educada “junto aos outros filhos da família do conde e junto ao que seria seu esposo, como se costumava então”.

Mapa da Alemanha: a Turíngia
 está no centro em vermelho.


Em 1221 Isabel se uniu em matrimônio com Luis IV, o Grande Conde (Landgrave) da Turíngia, que já reinava no lugar de seu pai. “O casamento teve lugar na igreja de São Jorge de Eisenach. Ela tinha então 14 anos. Havia sido educada pela Princesa Sofia, mãe de Luis, como um membro a mais da família. Ambos, Luis e Isabel cresceram juntos e viviam como irmãos (...). Ambos partilhavam os mesmos ideais de vivência da fé. Ela gostava de adornar-se para seu esposo quando este vinha de viagem distante.




Nas fontes aparece uma série de detalhes que demonstram que seu matrimônio não foi uma imposição aceita por obediência (...).


Em seu matrimônio brilham a perfeita sintonia entre ambos, o afeto, o respeito e a aceitação mútua e total”.


“Já casada, Isabel dedicava muito tempo à oração até altas horas da noite, mesmo no quarto matrimonial”.


“O milagre das rosas que conta sua legenda, não expressa bem essas relações matrimoniais. Quando Isabel se viu surpreendida por seu esposo carregando pães em sua saia, não tinha motivo algum para esconder seus propósitos misericordiosos ao marido. Ele a apoiava sempre em seus excessos caritativos como se manifestou durante a fome que houve em 1226, quando esvaziou os celeiros pertencentes ao conde na ausência do esposo; ao voltar este e receber queixas de seus súditos, aprovou incondicionalmente o comportamento de sua esposa”.





“Aos 15 anos Isabel já teve seu primeiro filho, Germano, o herdeiro do trono. Seguiram-no duas filhas, Sofia e Gertrudes”.


“A breve vida de Isabel está repleta de serviço amoroso, de alegria e de sofrimento. O clamor dos pobres, dos enfermos, dos marginalizados subia até o castelo de Wartburgo e ressoava cada vez mais e com mais força no seu coração, quando era a grande condessa. O ambiente que respirava na corte era de invejas e ambições; de guerras e conquistas; de luxo e dissipação. Sua prodigalidade e trato com os indigentes provocavam escândalos; não se encaixava em seu meio. Muitos vassalos a tinham como louca”



Certa vez, na ausência de seu marido e exercendo o poder de grande condessa, Isabel mandou distribuir todas as reservas dos seus celeiros para socorrer aqueles que padeciam de grande fome. “Vendeu vestidos e jóias; forneceu ferramentas aos que podiam trabalhar ... De volta a casa, seu marido não a repreendeu, porque conhecia o coração de sua esposa e compartilhava os mesmos ideais”.


“Sua entrega aos necessitados aparece como um gesto natural, sem esforço, porém não foi assim. Custou-lhe horrores familiarizar-se com a miséria e com as chagas da sociedade; penetrar nos casebres mal cheirosos; lavar e enfaixar as feridas; cuidar de crianças abandonadas... Tratou leprosos, a escória da sociedade, como Francisco.



Nos sedentos, famintos, enfermos, leprosos e desventurados, Isabel descobriu a Cristo (Mt 25,40). O enfermo concreto que atendia era Cristo para ela. Este lhe deu força para vencer sua repugnância natural, tanto que chegou até a beijar as feridas purulentas.”



Um fato marcante na vida espiritual de Isabel foi o seu contato com os frades de São Francisco. “Em 1225, as fundações franciscanas em solo alemão já eram dezoito. Não se tratava de grandes igrejas com conventos, mas sim de humildes centros familiares de pregação. Neste ano chegaram também a Eisenach, a capital da Turíngia, em cujo castelo de Wartburgo residia a corte do grande ducado, presidida por Luis e Isabel”.



Os frades pregavam a “penitência” ensinada por São Francisco, ou seja, a renúncia da vida mundana, a oração, a mortificação, e a prática das obras de misericórdia.  A Crônica de Frei Jordano de Jano (segunda metade do século XIII) nos informa que um frade de nome Rogério tornou-se diretor espiritual de Isabel: “ensinando-a a conservar a castidade, a humildade e a paciência, a vigiar nas orações e a trabalhar nas obras de misericórdia” (JJ 25). Na época da chegada dos frades de São Francisco a Eisenach Isabel era uma jovem senhora de apenas dezoito anos.





De acordo com as fontes biográficas, Isabel fez uma primeira profissão de votos como penitente nas mãos de Conrado de Marburgo: “Juntamente com os franciscanos ou depois deles, Conrado de Marburgo foi seu confessor e diretor espiritual. Era um pregador pobre e austero, sacerdote secular ou talvez cisterciense. O Papa o nomeou visitador dos mosteiros da Alemanha, pregador da cruzada e, posteriormente, inquisidor geral. Luis, esposo de Isabel, lhe confiou o cuidado de sua família em sua ausência (1226), quando Isabel o havia aceitado expressamente, por vontade própria, como guia e confessor”.


  Sob a orientação do visitador Conrado, Isabel levou vida penitencial no castelo de Wartburgo com algumas companheiras. Mesmo tendo aprendido a ser “penitente” com os frades franciscanos, ela fez a sua primeira profissão de penitente nas mãos de Conrado de Marburgo. Cada fraternidade tinha seu “visitador” como prescrevia o “Memoriale propositi” (antiga regra de 1221 para os penitentes). Tal visitador não precisava ser necessariamente um franciscano.






Em 1227 Luis IV morreu no sul da Itália, vitimado por uma peste, quando já estava para embarcar para a Terra Santa como cruzado. Isabel ficou viúva aos vinte anos de idade, estando grávida de sua última filha Gertrudes.


“Quando morreu seu marido, morreu também a princesa e se acentuou a penitente. Sua vida mudou radicalmente”. Discute-se entre os biógrafos se ela foi expulsa do castelo por seu cunhado Enrique Raspe ou se simplesmente partiu para viver radicalmente a pobreza evangélica. “Deixou de ser a grande condessa e começou a época decisiva de sua vida em seu caminho de imersão em Deus e de conversão em uma pobre, a mais pobre entre os pobres e necessitados... Sua resposta à solidão e ao abandono foi o canto de agradecimento que pediu para cantar na capela dos franciscanos, o Te Deum”.




Um ano mais tarde Isabel conseguiu receber uma certa renda  e se transferiu para Marburgo onde viveu os últimos três anos de sua vida. Nesta cidade ela construiu um hospital onde ela mesma cuidava dos doentes e abandonados, auxiliada por algumas companheiras seguidoras do mesmo ideal penitencial franciscano. Neste mesmo ano de 1228, na Sexta-feira Santa, elas fizeram uma segunda profissão pública como penitentes na presença de Conrado de Marburgo, consolidando aquela fraternidade franciscana de mulheres dedicadas à caridade. Elas  também passaram a utilizar como sinal externo um hábito cinza típico dos penitentes. Neste tempo ainda não existia na Igreja uma Ordem feminina sem clausura e dedicada ao serviço dos mais necessitados.





Quem eram esses penitentes?





O “Memoriale Propositi” de 1221 (primeira regra para os penitentes) reunia esses homens e mulheres em grupos (fraternidades), mas não os tiravam do mundo, isto é, não exigia deles uma vida em mosteiros ou conventos. “Levavam uma vida de piedade e renúncia. Muitos se dedicavam a difundir a misericórdia de Deus entre os excluídos, como o fez Santa Isabel”.


“Isabel acrescentou a todas as exigências da regra, a vida em comunidade com sua servas para tornar mais efetiva a misericórdia e a oração. Isabel não foi a única que socializou a vida penitencial franciscana, porém é a mais significativa das fundadoras, a que levou o exercício da caridade a extremos indiscutivelmente. Foi pioneira sem sabê-lo. Sem reticências podemos concluir que Isabel foi uma religiosa professa penitente ao estilo de Francisco. Viveu intensamente à maneira das espiritualidade penitencial franciscana e fundou uma comunidade consagrada ao serviço de Deus e dos necessitados” .



Aos 17 de novembro de 1231, contando com apenas vinte e quatro anos, ela entregou sua alma a Deus. “Na hora de morrer, declarou expressamente que tudo o que ela tinha pertencia aos pobres, exceto o hábito da penitência com o qual queria ser sepultada. Sem posses, sem propriedades, sem bagagem saiu ao encontro do Senhor”. Quatro anos mais tarde ela era canonizada pelo papa Gregório IX.



Pequena cronologia da vida de Santa Isabel:





1182 nasce São Francisco em Assis.

1200nasce Luis IV na Turíngia (Alemanha central), futuro esposo de Isabel.

1206S. Francisco sai da casa paterna e começa a viver como penitente.

1207 nasce Isabel da Hungria.

1211a menina Isabel vai morar na Turíngia.

1213 - a mãe de Isabel, a rainha Gertrudes, é assassinada na Hungria.

1217Luis IV assume o trono de seu pai, falecido neste ano.

1221casamento de Isabel com Luis IV.

1222 nasce o primeiro filho de Isabel: Germano.

1224nasce a primeira filha de Isabel: Sofia.

1225os frades de São Francisco chegam à capital da Turíngia onde mora Isabel. Frei Rogério passa a ser seu diretor espiritual. Ela concede aos frades uma capela.

1226Conrado de Marburgo passa a ser o confessor e diretor de Isabel. Ela faz uma consagração de penitente nas mãos do seu confessor juntamente com três criadas. Elas formam uma pequena comunidade de penitentes guiadas por Conrado de Marburgo. Neste ano São Francisco Morre em Assis.

1227Isabel fica viúva aos 20 anos de idade. Algum tempo depois nasce a sua filha Gertrudes. O cunhado de Isabel, Henrique Raspe, assume o trono da Turíngia. Isabel abandona o castelo e passa a viver na pobreza.

1228Na igreja dos franciscanos de Eisenach Isabel faz uma segunda consagração e recebe o hábito cinza dos penitentes das mãos de Conrado de Marburgo. Ela consegue receber um dote de viuvez e com esta renda se muda definitivamente para Marburgo, onde constrói um hospital que será colocado sob a proteção de São Francisco algum tempo depois.

1231 Isabel morre no dia 17 de novembro na cidade de Marburgo. Muitos milagres começam acontecer por intercessão desta penitente franciscana. Conrado de Marburgo é nomeado inquisidor pontifício.

1232abertura do processo de canonização de Isabel. Conrado de Marburgo envia ao papa Gregório IX uma carta contendo um resumo da vida desta santa.

1233 o papa manda estudar os milagres acontecidos por intercessão de Isabel. Quatro companheiras são interrogadas para o processo de canonização. Conrado de Marburgo é assassinado por membros da nobreza alemã.

1235o papa Gregório IX canoniza Isabel na cidade italiana de Perúgia. Começa a ser construída a basílica de Santa Isabel em Marburgo.







Fontes principais sobre Isabel da Hungria:





1232Carta de Conrado de Marburgo ao Papa sobre a vida de Isabel. Este documento é chamado também de Summa vitae (Compêndio da vida).

1235Declarações da quatro criadas: testemunhos recolhidos para o processo de canonização. Em 1233 e posteriormente as criadas foram interrogadas.

1236-1244Libellus de dictis quattuor ancillarum (Livreto confeccionado com as declarações das quatro criadas). Esta obra inclui as “Declarações das quatro criadas” e acrescenta um prólogo, um epílogo e a divisão do texto em quatro partes.





Trecho da Carta de Conrado de Marburgo ao Papa Gregório IX escrita um ano após a morte de Isabel:




“Muito cedo começou Isabel a possuir grandes virtudes. (...) Determinou a construção de um hospital, perto de um castelo de sua propriedade, onde recolheu muitos enfermos e enfraquecidos. A todos que ali iam pedir esmola, distribuiu liberalmente suas dádivas; (...) e foi ao ponto de mandar vender seus adornos e vestes preciosas em benefício dos pobres.

Tinha o costume de, duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde, visitar pessoalmente seus doentes, e chegava mesmo a tratar com as próprias mãos os mais repelentes. A alguns deles alimentava, a outros preparava o leito, a outros até carregava nos ombros. Assim realizava muitas obras de bondade. Em tudo isto seu marido, de feliz memória, não se mostrava contrariado.

Numa Sexta-feira Santa, desnudados todos os altares, em uma capela de seu castelo onde acolhera os frades franciscanos, colocou as mãos sobre o altar e, na presença de umas poucas pessoas, renunciou à própria vontade e a todas as pompas mundanas (...). Seguiu-me contra minha vontade a Marburgo. Nesta cidade construiu um hospital para doentes e necessitados, chamando à sua mesa os mais miseráveis e desprezados.

Além desta atuação operosa, digo-o diante de Deus, raramente vi mulher mais contemplativa.” (Extraído da Liturgia das Horas na festa de Santa Isabel em 17 de novembro).




CATEQUESE DO PAPA: ISABEL DA HUNGRIA, A PRINCESA ENTRE OS POBRES





CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 20 de outubro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Praça de São Pedro para a audiência geral.



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Queridos irmãos e irmãs:



Hoje, eu gostaria de falar-vos sobre uma das mulheres da Idade Média que suscitou maior admiração: Santa Isabel da Hungria, chamada também de Isabel da Turíngia. Ela nasceu em 1207, na Hungria. Os historiadores discutem onde. Seu pai era André II, rico e poderoso rei da Hungria, o qual, para reforçar seus vínculos políticos, havia se casado com a condessa alemã Gertrudes de Andechs-Merania, irmã de Santa Edwirges, que era esposa do duque de Silésia. Isabel viveu na corte húngara somente nos primeiros quatro anos da sua infância, junto a uma irmã e três irmãos. Ela gostava de música, dança e jogos; recitava com fidelidade suas orações e mostrava atenção particular aos pobres, a quem ajudava com uma boa palavra ou com um gesto afetuoso.


Sua infância feliz foi bruscamente interrompida quando, da distante Turíngia, chegaram alguns cavaleiros para levá-la à sua nova sede na Alemanha central. Segundo os costumes daquele tempo, de fato, seu pai havia estabelecido que Isabel se convertesse em princesa de Turíngia. O landgrave ou conde daquela região era um dos soberanos mais ricos e influentes da Europa no começo do século XIII e seu castelo era centro de magnificência e de cultura. Mas, por trás das festas e da glória, escondiam-se as ambições dos príncipes feudais, geralmente em guerra entre eles e em conflito com as autoridades reais e imperiais. Neste contexto, o landgrave Hermann acolheu com boa vontade o noivado entre seu filho Ludovico e a princesa húngara. Isabel partiu de sua pátria com um rico dote e um grande séquito, incluindo suas donzelas pessoais, duas das quais permaneceriam amigas fiéis até o final. São elas que deixaram preciosas informações sobre a infância e sobre a vida da santa.

Castelo de Wartburg onde Isabel viveu até a morte de Luis IV.


Após uma longa viagem, chegaram a Eisenach, para subir depois à fortaleza de Wartburg, o maciço castelo sobre a cidade. Lá se celebrou o compromisso entre Ludovico e Isabel. Nos anos seguintes, enquanto Ludovico aprendia o ofício de cavaleiro, Isabel e suas companheiras estudavam alemão, francês, latim, música, literatura e bordado. Apesar do fato do compromisso ter sido decidido por razões políticas, entre os dois jovens nasceu um amor sincero, motivado pela fé e pelo desejo de fazer a vontade de Deus. Aos 18 anos, Ludovico, após a morte do seu pai, começou a reinar sobre Turíngia. Mas Isabel se converteu em objeto de silenciosas críticas, porque seu comportamento não correspondia à vida da corte. Assim também a celebração do matrimônio não foi fastuosa e os gastos do banquete foram distribuídos em parte aos pobres. Em sua profunda sensibilidade, Isabel via as contradições entre a fé professada e a prática cristã. Não suportava os compromissos. Uma vez, entrando na igreja na festa da Assunção, ela tirou a coroa, colocou-a aos pés da cruz e permaneceu prostrada no chão, com o rosto coberto. Quando uma freira a desaprovou por este gesto, ela respondeu: "Como posso eu, criatura miserável, continuar usando uma coroa de dignidade terrena quando vejo o meu Rei Jesus Cristo coroado de espinhos?". Ela se comportava diante dos seus súditos da mesma forma que se comportava diante de Deus. Entre os escritos das quatro donzelas, encontramos este testemunho: "Não consumia alimentos sem antes estar certa de que procediam das propriedades e dos bens legítimos do seu marido. Enquanto se abstinha dos bens adquiridos ilicitamente, preocupava-se também por ressarcir àqueles que tivessem sofrido violência” (nn. 25 e 37). Um verdadeiro exemplo para todos aqueles que desempenham cargos: o exercício da autoridade, em todos os níveis, deve ser vivido como serviço à justiça e à caridade, na busca constante do bem comum.


Isabel praticava assiduamente as obras de misericórdia: dava de beber e de comer a quem batia à sua porta, distribuía roupas, pagava as dívidas, cuidava dos doentes e sepultava os mortos. Descendo do seu castelo, dirigia-se frequentemente com suas donzelas às casas dos pobres, levando pão, carne, farinha e outros alimentos. Entregava os alimentos pessoalmente e cuidava com atenção do vestuário e dos leitos dos pobres. Este comportamento foi informado ao seu marido, a quem isso não apenas não desagradou, senão que respondeu aos seus acusadores: "Enquanto ela não vender o castelo, estou feliz!". Neste contexto se coloca o milagre do pão transformado em rosas: enquanto Isabel ia pela rua com seu avental cheio de pão para os pobres, encontrou-se com o marido, que lhe perguntou o que estava carregando. Ela abriu o avental e, no lugar dos pães, apareceram magníficas rosas. Este símbolo de caridade está presente muitas vezes nas representações de Santa Isabel.



Seu casamento foi profundamente feliz: Isabel ajudava seu esposo a elevar suas qualidades humanas ao nível espiritual e ele, por outro lado, protegia sua esposa em sua generosidade com os pobres e em suas práticas religiosas. Cada vez mais admirado pela grande fé de sua esposa, Ludovico, referindo-se à sua atenção aos pobres, disse-lhe: "Querida Isabel, é Cristo quem você lavou, alimentou e cuidou" - um claro testemunho de como a fé e o amor a Deus e ao próximo reforçam e tornam ainda mais profunda a união matrimonial.


O jovem casal encontrou apoio espiritual nos Frades Menores, que, desde 1222, difundiram-se em Turíngia. Entre eles, Isabel escolheu o Frei Rüdiger [ou Rogério]  como diretor espiritual. Quando ele lhe narrou as circunstâncias da conversão do jovem e rico comerciante Francisco de Assis, Isabel se entusiasmou ainda mais em seu caminho de vida cristã. Desde aquele momento, dedicou-se ainda mais a seguir Cristo pobre e crucificado, presente nos pobres. Inclusive quando nasceu seu primeiro filho, seguido de outros dois, nossa santa não descuidou jamais das suas obras de caridade. Além disso, ajudou os Frades Menores a construir um convento em Halberstadt, do qual o Frei Rüdiger se tornou superior. A direção espiritual de Isabel passou, assim, a Conrado de Marburgo.


Uma dura prova foi o adeus ao marido, no final de junho de 1227, quando Ludovico IV se associou à cruzada do imperador Frederico II, recordando à sua esposa que esta era uma tradição para os soberanos de Turíngia. Isabel respondeu: "Não o impedirei. Eu me entreguei totalmente a Deus e agora devo entregar você também". No entanto, a febre dizimou as tropas e o próprio Ludovico ficou doente e morreu em Otranto, antes de embarcar, em setembro de 1227, aos 26 anos. Isabel, ao saber da notícia, sentiu tal dor, que se retirou em solidão, mas depois, fortificada pela oração e consolada pela esperança de voltar a vê-lo no céu, interessou-se novamente pelos assuntos do reino. Outra prova, porém, a esperava: seu cunhado usurpou o governo de Turíngia, declarando-se verdadeiro herdeiro de Ludovico e acusando Isabel de ser uma mulher piedosa incompetente para governar. A jovem viúva, com seus três filhos, foi expulsa do castelo de Wartburg e começou a procurar um lugar para refugiar-se. Somente duas de suas donzelas permaneceram junto dela, acompanharam-na e confiaram os três filhos aos cuidados de amigos de Ludovico. Peregrinando pelos povoados, Isabel trabalhava onde era acolhida, assistia os doentes, fiava e costurava. Durante este calvário, suportado com grande fé, paciência e dedicação a Deus, alguns parentes, que haviam permanecido fiéis a ela e consideravam ilegítimo o governo do seu cunhado, reabilitaram seu nome. Assim, Isabel, no início de 1228, pôde receber uma renda apropriada para retirar-se ao castelo familiar em Marburgo, onde vivia também seu diretor espiritual, Frei Conrado. Foi ele quem contou ao Papa Gregório IX o seguinte fato: "Na Sexta-Feira Santa de 1228, com as mãos sobre o altar da capela da sua cidade, Eisenach, onde havia acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à sua própria vontade e a todas as vaidades do mundo. Ela queria renunciar a todas as suas possessões, mas eu a dissuadi por amor aos pobres. Pouco depois, construiu um hospital, recolheu doentes e inválidos e serviu em sua própria mesa os mais miseráveis e abandonados. Tendo eu a repreendido por estas coisas, Isabel respondeu que dos pobres recebia uma especial graça e humildade" (Epistula magistri Conradi, 14-17).





Podemos ver nesta afirmação certa experiência mística parecida com a vivida por São Francisco: de fato, o Pobrezinho de Assis declarou em seu testamento que, servindo os leprosos, o que antes era amargo se transformou em doçura da alma e do corpo (Testamentum, 1-3). Isabel transcorreu seus últimos 3 anos no hospital fundado por ela, servindo os doentes, velando com os moribundos. Tentava sempre levar a cabo os serviços mais humildes e os trabalhos repugnantes. Ela se converteu no que poderíamos chamar de mulher consagrada no meio do mundo (soror in saeculo) e formou, com outras amigas suas, vestidas com um hábito cinza, uma comunidade religiosa. Não é por acaso que ela é padroeira da Terceira Ordem Regular de São Francisco e da Ordem Franciscana Secular.


Em novembro de 1231, foi vítima de fortes febres. Quando a notícia da sua doença se propagou, muitas pessoas foram visitá-la. Após cerca de 10 dias, ela pediu que fechassem as portas, para ficar a sós com Deus. Na noite de 17 de novembro, descansou docemente no Senhor. Os testemunhos sobre sua santidade foram tantos, que apenas quatro anos mais tarde, o Papa Gregório IX a proclamou santa e, no mesmo ano, consagrou-se a bela igreja construída em sua honra, em Marburgo.

Cidade de Marburgo: aqui Isabel viveu
os três últimos anos de sua vida.


Queridos irmãos e irmãs, na figura de Santa Isabel, vemos como a fé e a amizade com Cristo criam o sentido da justiça, da igualdade de todos, dos direitos dos demais e criam o amor, a caridade. E dessa caridade nasce a esperança, a certeza de que somos amados por Cristo e de que o amor de Cristo nos espera e nos torna, assim, capazes de imitá-lo e vê-lo nos demais. Santa Isabel nos convida a redescobrir Cristo, a amá-lo, a ter fé e, assim, encontrar a verdadeira justiça e o amor, como também a alegria de que um dia estaremos submersos no amor divino, no gozo da eternidade com Deus. Obrigado.






 [Tradução: Aline Banchieri.

©Libreria Editrice Vaticana]



PAX ET BONUM


Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.